Tecnicamente, sim — mas será mais difícil manter o leitor engajado. O conflito é o coração da narrativa tradicional porque cria tensão, movimento e transformação. Sem ele, você precisa compensar com profundidade emocional, estilo envolvente e temas universais que mantenham o interesse.
Por que o conflito é tão importante em histórias?
Na maioria das narrativas, o conflito:
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Cria tensão dramática (o leitor quer saber “o que vai acontecer?”);
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Impulsiona a ação e o desenvolvimento dos personagens;
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Gera empatia, já que o público torce por alguém enfrentando obstáculos.
É como o motor do carro: sem ele, a história não anda — ou anda devagar demais.
Existem histórias sem conflito que funcionam?
Sim. São raras, mas existem — e geralmente funcionam por causa de:
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Um estilo de escrita extremamente poético ou reflexivo;
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Uma exploração emocional profunda, como em diários, memórias ou contemplações existenciais;
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Um foco no ambiente, atmosfera ou ideia, em vez de eventos.
Exemplos:
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Em Busca do Tempo Perdido (Marcel Proust): introspecção sem conflito direto;
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Alguns contos de Clarice Lispector, que giram em torno de epifanias silenciosas.
O que usar no lugar do conflito?
Se você quiser evitar conflito clássico (como “herói vs vilão” ou “desejo vs obstáculo”), pode usar:
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Tensão interna: dilemas filosóficos, existenciais ou morais;
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Mudança de perspectiva: histórias sobre amadurecimento ou descoberta;
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Observação do cotidiano: captar beleza no banal, como faz o realismo minimalista.
Mas atenção: mesmo essas formas sutis de narrativa têm um tipo de “movimento” — não é um conflito explosivo, mas ainda assim há uma transição ou deslocamento.
Histórias sem conflito são consideradas ruins?
Não. Mas elas fogem da estrutura tradicional e, por isso, exigem mais do autor. Sem conflito:
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Você não pode contar com o “gancho” clássico;
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Precisa prender o leitor com linguagem, sensibilidade e originalidade;
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O ritmo deve ser deliberado, não arrastado.
Muitos leitores estão acostumados com histórias de três atos, jornadas do herói e clímax. Sem isso, a obra pode parecer “sem graça” se mal executada.
FAQ: Conflito na Escrita Criativa
Toda história precisa de conflito?
Não, mas a maioria das narrativas populares tem. O conflito ajuda a criar engajamento.
Histórias contemplativas funcionam?
Sim, desde que ofereçam algo: emoção, reflexão, beleza ou estilo. Exemplos: Virginia Woolf, Rainer Maria Rilke.
Posso usar conflito interno no lugar de externo?
Sim, e é até mais sofisticado. O personagem pode lutar contra o tédio, o medo, o amor ou a própria identidade.
Existe “conflito leve”?
Sim. Pequenas frustrações, mal-entendidos ou dilemas éticos também contam como conflito — ainda que suaves.