Sim, você pode — e isso pode deixar sua narrativa muito mais envolvente. Começar pelo fim (ou perto dele) é uma técnica narrativa chamada in medias res ou estrutura não linear, que captura o leitor desde o início com um momento de impacto e cria curiosidade sobre como os personagens chegaram até ali.
O que significa começar pelo fim?
É quando a narrativa começa com o desfecho, ou próximo dele, e depois retorna para contar como tudo aconteceu. Exemplo clássico:
“Foi no dia do enterro da minha mãe que eu decidi matar um homem.”
Essa abertura choca, intriga e imediatamente coloca o leitor em estado de alerta: Como assim? Por quê?
Por que começar pelo fim pode funcionar?
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Cria suspense: o leitor quer saber como e por que aquilo aconteceu.
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Foge do óbvio: dá um ar sofisticado e cinematográfico ao texto.
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Economiza tempo: você já entrega o “ponto alto” e evita enrolação.
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Dá ao leitor uma bússola emocional: ele entende o destino, mas precisa viver a jornada.
Funciona bem em contos, romances, roteiros e até autobiografias.
Exemplos de histórias que começam pelo fim
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“O Apanhador no Campo de Centeio” – Começa com o protagonista no hospital psiquiátrico, e a história volta para explicar o que o levou até lá.
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“Forrest Gump” – Ele já está sentado contando tudo o que aconteceu.
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“O Curioso Caso de Benjamin Button” – Um homem nasce velho e rejuvenesce com o tempo — o final já está embutido na proposta.
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“Clube da Luta” – A cena inicial é o clímax. Depois, tudo volta para o início da loucura.
Quando não é uma boa ideia?
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Quando o “fim” é fraco ou previsível demais;
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Se a história depende de revelações que só fazem sentido cronologicamente;
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Se o leitor precisa conhecer e se apegar ao personagem antes de se importar com o fim.
Lembre-se: o fim só tem impacto se for emocionalmente carregado. Se você começar por ele, precisa dar ao leitor uma razão para se importar.
Dicas para usar essa técnica com eficiência
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Crie uma imagem forte no início
Uma cena tensa, misteriosa ou emocionalmente poderosa prende o leitor. -
Use bem os saltos temporais
Transições malfeitas entre o “fim” e o “começo” confundem o leitor. -
Construa tensão ao longo da história
Cada flashback ou capítulo deve adicionar camadas até o momento inicial fazer completo sentido. -
Reforce a transformação do personagem
Se o leitor viu o resultado no início, ele precisa sentir o impacto da jornada que levou até lá.
FAQ: Começar pelo fim da história
Existe um nome técnico para essa técnica?
Sim: in medias res (latim para “no meio das coisas”) e estrutura não linear são termos comuns.
Posso revelar o final inteiro logo na primeira página?
Pode, mas o risco é tirar o impacto emocional. O ideal é mostrar um pedaço intrigante, não tudo.
Funciona em histórias curtas?
Funciona MUITO bem! Contos e crônicas se beneficiam da estrutura invertida, porque ganham ritmo e impacto imediato.
Preciso de permissão ou técnica avançada para fazer isso?
Não. Precisa de consciência narrativa. É uma escolha criativa, não uma regra.