A autobiografia narra fatos reais vividos por quem escreve. A autoficção mistura experiências pessoais com elementos ficcionais. E a ficção pura é invenção total — mesmo quando soa verdadeira. A diferença está no pacto com o leitor e no grau de liberdade criativa que você assume.
O que é autobiografia?
Autobiografia é o gênero em que o autor escreve sobre a própria vida real, com nome, datas e fatos verificáveis.
-
Foco: trajetória pessoal, memórias, acontecimentos reais.
-
Exemplo clássico: “Minha História”, de Michelle Obama.
-
Pacto com o leitor: “isso aconteceu assim como estou contando”.
A autobiografia exige responsabilidade com a verdade. Não pode dizer que você foi pra guerra da Síria se passou os últimos 10 anos vendendo bijuteria em Copacabana.
O que é autoficção?
Autoficção é o território híbrido onde o autor mistura realidade e invenção.
-
O narrador tem o mesmo nome do autor, ou é claramente inspirado nele.
-
Há fatos reais, mas com liberdade para mentir literariamente.
-
O pacto com o leitor é ambíguo: “isso é verdade, mas talvez não exatamente”.
Exemplo prático:
Você realmente teve um caso com alguém no metrô. Mas, na autoficção, esse caso dura anos, envolve crime e termina num enterro. Só um pedaço disso aconteceu — mas ninguém sabe qual.
E a ficção pura?
A ficção pura é a invenção total — personagens, tramas, cenários. Mesmo que você use referências da vida real, o pacto com o leitor é:
“Nada aqui aconteceu, mas poderia.”
-
Você pode colocar partes de você no texto, claro. Mas elas são processadas, distorcidas, alteradas.
-
É o domínio do romance, conto, fábula, fantasia, sci-fi, terror, etc.
Exemplo:
Você nunca foi à Lua, mas escreve sobre uma astronauta com crise existencial que te representa mais do que qualquer post no Instagram.
Comparativo rápido: autobiografia vs autoficção vs ficção pura
Critério | Autobiografia | Autoficção | Ficção Pura |
---|---|---|---|
Base em fatos reais | Sim | Sim + liberdade criativa | Não (ou só vagamente inspirada) |
Narrador é o autor? | Sim | Geralmente sim | Não |
Nome real do autor | Sim | Às vezes sim | Geralmente não |
Compromisso com a verdade | Alto | Médio (ambiguidade proposital) | Nenhum |
Grau de invenção | Baixíssimo | Médio | Máximo |
Leitor espera ver o “eu real”? | Sim | Sim/talvez | Não |
Como saber qual dessas formas estou escrevendo?
Faça três perguntas:
-
Estou contando algo que realmente vivi?
-
Quero mudar parte dessa experiência para intensificar o drama ou esconder detalhes?
-
Estou escrevendo sobre outra pessoa fictícia, mesmo que use minha emoção?
Suas respostas vão te posicionar. E não precisa escolher um rótulo antes de escrever. Às vezes, o próprio texto revela o que ele quer ser.
Posso misturar as três formas?
Pode. Muitos autores transitam entre os três territórios num mesmo livro.
Exemplo:
Um romance com capítulos de diário pessoal (autobiográfico), narrado por um personagem com seu nome (autoficcional), em uma trama com alienígenas comunistas (ficção total).
O importante é ter consciência do pacto narrativo: o que o leitor espera quando abre seu livro — e o que você promete entregar.
FAQ: Autobiografia, Autoficção e Ficção
Preciso deixar claro para o leitor qual é qual?
Não obrigatoriamente. Mas se você quiser evitar confusão, vale colocar uma nota introdutória, epílogo ou entrevista que esclareça suas intenções.
A autoficção é menos “nobre” do que a autobiografia?
Não. É só um estilo diferente. Aliás, a autoficção exige mais técnica pra equilibrar verdade e invenção sem parecer fake ou forçado.
Posso escrever uma autobiografia mesmo sendo jovem?
Sim. Se tiver algo significativo a dizer, idade não é impeditivo. Mas cuidado: evite confundir “diário pessoal” com “obra publicável”.
Ficção pura pode ser mais verdadeira que uma biografia?
Sim — no sentido emocional. Uma boa história inventada pode tocar mais o leitor do que um relato factual mal escrito.