O narrador personagem é um dos protagonistas ou coadjuvantes da história, contando os eventos sob sua própria ótica, usando “eu”. Já o narrador observador é uma figura externa e neutra, que narra os acontecimentos em terceira pessoa, sem entrar na mente dos personagens.
Pensa assim: um vive a história por dentro. O outro assiste de fora — tipo voyeur literário.
Narrador personagem: a história sob lentes subjetivas
O narrador personagem está dentro da ação. Ele é um dos envolvidos. É parcial, emocional, limitado. Mas é isso que o torna envolvente.
Características:
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Usa a primeira pessoa (“eu”, “meu”, “minha história”)
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Tem acesso apenas ao que ele sabe, sente ou percebe
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Pode ser protagonista, coadjuvante ou até um narrador testemunha (como Dr. Watson em Sherlock Holmes)
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Costuma ser mais íntimo, confessional, emocional
Vantagens:
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Gera conexão imediata com o leitor
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Dá tom único à narrativa (ironia, humor, trauma, inocência)
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É ótimo para histórias subjetivas e emocionais
Riscos:
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Perspectiva limitada: o leitor só vê o que o narrador vê
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Pode soar “fechado” se não houver tensão, conflito ou voz forte
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Pode cair no erro de contar demais e mostrar de menos
Exemplo clássico:
“Quando entrei naquele quarto, achei que seria só mais uma noite comum. Eu não fazia ideia do que me esperava.”
Narrador observador: o cinegrafista da narrativa
O narrador observador não participa da história. Ele é como uma câmera que registra tudo, mas não entra na cabeça de ninguém. Ele descreve ações, gestos, diálogos, mas não entrega o que os personagens estão pensando.
Características:
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Usa a terceira pessoa (“ele”, “ela”, “o homem fez…”)
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Não tem acesso aos pensamentos dos personagens
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Narra o que pode ser visto e ouvido
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É objetivo, muitas vezes com estilo seco ou minimalista
Vantagens:
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Permite que o leitor interprete as emoções e intenções
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Cria distanciamento útil em histórias mais cruas, críticas ou ambíguas
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Evita excesso de explicações internas
Riscos:
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Pode soar frio ou distante demais
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Exige habilidade para mostrar emoções sem dizer o que os personagens sentem
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Depende muito de descrições sensoriais e linguagem corporal
Exemplo clássico:
“Ela entrou no quarto, olhou para a cama vazia, fechou a porta sem dizer uma palavra.”
(Repare: você não sabe o que ela pensa — mas sente algo acontecendo.)
Comparando lado a lado:
| Aspecto | Narrador Personagem | Narrador Observador |
|---|---|---|
| Participa da história | Sim | Não |
| Pessoa gramatical | Primeira pessoa (“eu”) | Terceira pessoa (“ele/ela”) |
| Acesso aos pensamentos | Apenas os próprios | Nenhum |
| Subjetividade | Alta | Baixa |
| Proximidade com leitor | Íntima | Distante |
| Controle da narrativa | Limitado ao que o personagem sabe | Total sobre os eventos observáveis |
| Estilo | Confessional, emocional, pessoal | Neutro, cinematográfico, interpretativo |
Quando usar cada tipo?
Escolha o narrador personagem se:
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A história é sobre a transformação de alguém
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Você quer um tom íntimo, visceral ou emocional
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A subjetividade da visão do narrador muda o jeito que o leitor percebe os eventos
Escolha o narrador observador se:
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Você quer mostrar o mundo como ele é, sem filtros emocionais
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Prefere que o leitor interprete ações e reações
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A história exige uma narração mais objetiva, fria ou ambígua
FAQ: Narrador personagem x observador
Posso usar os dois no mesmo livro?
Sim, desde que bem estruturado e justificado. Muitos autores alternam entre capítulos em primeira pessoa e outros com narrador observador — mas isso exige consistência de tom e propósito.
Narrador observador é o mesmo que narrador onisciente?
Não. O onisciente entra na mente de todo mundo, sabe o que cada personagem sente. O observador só narra o que vê e ouve, como uma câmera de segurança com estilo literário.
Narrador personagem pode mentir?
Sim — e esse é um recurso riquíssimo. Narrador não confiável cria tensão, ambiguidade e reviravolta.
O leitor vai sentir mais com qual dos dois?
Depende. A primeira pessoa aproxima, mas a terceira observadora, quando bem feita, deixa espaço para o leitor se projetar nos silêncios.
